A busca por alimentos alternativos que sejam fontes de nutriente e que atendam a segurança alimentar sem ter um impacto ambiental importante está nos objetivos do desenvolvimento sustentável. Nesse quadro, os estudos relacionados aos insetos comestíveis permitiram um avanço significativo quanto a sua composição química. O aluno de mestrado irá trabalhar com diversos insetos comestíveis (tenébrios, grilos, formigas) e irá avaliar o aporte nutricional (elementos essenciais e compostos orgânicos) dessas matrizes através de ensaios de bioacessibilidade (Infogest 2.0), onde a digestão é simulada no laboratório. O aluno desenvolverá seus experimentos no Laboratório de Análise Elementar Gerenciamento Ambiental e Alimentos (LAEGA), coordenado pela professora Christiane Duyck, que conta com uma equipe de alunos de iniciação científica, de mestrado e de doutorado. Adicionalmente, o aluno irá participar de uma equipe multidisciplinar entre diversas universidades, no quadro de um projeto com o Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA). Os interessados podem mandar o currículo paracbduyck@id.uff.br.
Localizada a 1,2 mil quilômetros do litoral da cidade de Vitória, capital do Espírito Santo, a Ilha da Trindade integra um pequeno arquipélago localizado no Oceano Atlântico formado por duas ilhas principais: Trindade e Martim Vaz. O território corresponde a um importante ponto estratégico para a defesa nacional, além de ser berço para diversas espécies da fauna e da flora brasileira, algumas apenas encontradas na região.
“Podemos pensar a adoção de alternativas renováveis sob vários aspectos, como a diminuição do custo com a compra e transporte do diesel, pois a energia renovável usa recursos locais; a diminuição dos impactos locais e nacionais, já que não teríamos a queima do combustível nem o próprio consumo de combustível para levar esse material do continente para a ilha e o aumento da autossuficiência do território, pois, com fontes renováveis, numa eventual falha no suprimento de diesel, a base ainda teria energia elétrica para continuar suas atividades”, explica o professor do Departamento de Engenharia Agrícola e Ambiental da UFF, Marcos Alexandre Teixeira, um dos autores do estudo e coorientador da dissertação.
O estudo se debruça sobre como ter um fornecimento de energia elétrica totalmente baseado em fontes renováveis (hidroeletricidade, eólica e geração solar), para as atividades na Ilha de Trindade. “Buscamos responder se é possível, com que tecnologias, se temos equipamentos para isso disponíveis no mercado brasileiro, que dados e informações necessitamos e onde encontrá-los para poder fazer esse dimensionamento”, exemplifica o pesquisador.
Sistemas isolados
Sistemas isolados são locais que não possuem postes para levar eletricidade das unidades geradoras até as casas. Esse é o caso da Ilha da Trindade, uma importante região de base militar e meteorológica que produz dados para compreender o clima e prever eventos extremos, além de um território fundamental para estudos da biologia marinha.
Vista aérea do Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade, localizada no estado do Espírito Santo / Foto: Agência Marinha de Notícias (Divulgação) #ParaTodosVerem A imagem mostra vista aérea da do Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade, cercado por árvores e construções espaçadas
Para territórios isolados como a Ilha da Trindade, o primeiro desafio é a logística de transporte, pois tudo que vai para o local e de lá retorna ao continente deve ser transportado pelos navios da Marinha e descarregados via bote, visto que a ilha não tem um porto para atracação. Assim, a solução passa pela manutenção de um conjunto de geradores a diesel, que demanda o envio de combustível e peças a partir do continente.
Energia dos ventos é mais eficiente
Durante o estudo, foram avaliadas quatro opções de geração de energia: eólica associada ao diesel; solar com baterias; eólica com sistema de armazenamento hídrico; e fotovoltaica (sistema que converte energia solar em eletricidade) associada ao diesel. Diante dos critérios de custo-benefício, a pesquisa considerou a geração eólica associada ao diesel como a melhor opção para atender as demandas de eletricidade da ilha. Segundo o professor, para análise das alternativas foram considerados diversos fatores, principalmente a dificuldade e os custos de instalação, a possibilidade de atendimento de toda demanda da ilha e os impactos na biodiversidade do território.
Tabela com os custos para implementação dos sistemas de energia renovável. Respectivamente: eólica associada a diesel, solar com baterias e eólica com armazenamento hídrico. Fonte: artigo “Viabilidade da integração de energia renovável em sistemas isolados no Brasil – Um estudo de caso na Ilha de Trindade (Espírito Santo, Brasil)”
“Com base nesses parâmetros, a implementação da energia eólica em paralelo à geração do diesel já existente apresenta a possibilidade de ser progressiva, com um aerogerador por vez, facilitando as operações de instalação dos aerogeradores nessa localidade remota. Esse modelo permite avaliar, de forma segura, se o vento e a geração previstos para o aerogerador estão corretos, garantindo um melhor ajuste à medida que o projeto evolui”, destaca Teixeira.
O estudo indica aerogeradores de pequeno e médio porte – inicialmente de 10 quilowatts (kW) – que seriam instalados na parte terrestre da ilha. Outro fator preponderante para a adoção do modelo eólico é a geração de energia também no período da noite e por mais tempo ao longo do dia, o que reduz custos com baterias. Como fator de segurança para um local tão isolado, a pesquisa indica a manutenção dos geradores a diesel como fonte subsidiária de energia em casos de emergência.
Modelo de aerogerador de 10 kW equivalente aos indicados no estudo. / Crédito: Windup.pt
Além de destacar a viabilidade de um sistema de energia renovável, a pesquisa traz uma metodologia que pode ser reproduzida em outros espaços isolados. “Esse método utilizado para avaliar o potencial pode ser replicado para outros lugares, pois foram utilizadas fontes de dados disponíveis para qualquer um poder reproduzi-la em qualquer outra localidade do território nacional. Uma vez aprendida, a própria Marinha, com seu corpo de engenharia, pode reproduzir esse tipo de estudo em outras localidades”, conclui Teixeira.
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Marcos Alexandre Teixeira é professor do Departamento de Engenharia Agrícola e Ambiental da Universidade Federal Fluminense (UFF). É graduado e mestre em Engenharia Agrícola e doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com experiência no desenvolvimento de Projetos EPC Turnkey, desenvolvida durante sua atuação em empresas de projetos industriais no Brasil. Durante o pós-doutoramento, de 2004 a 2008, trabalhou em projetos de cooperação e pesquisa internacionais nas áreas de sistemas de energia renovável, combate à pobreza e Projetos de MDL em países da África, Europa, Brasil e China e Indonésia.